Exposição Crônicas Daquele Dia

Artista Juan Reos


Sobre a exposição

Crônicas daquele dia

Juan Reos, Buenos Aires, Argentina, 1983

Juan Reos, argentino de Buenos Aires, guarda um fascínio pela paisagem de sua terra. Encantado pelo Pampa, encontrou-se com as nuvens dessa grande planície de pradarias e campos abertos.

Ao penetrarmos na galeria, as obras distanceadas da parede, em pequenos estandartes desfraldados (Fig 1), reagem à passagem do visitante com o ar que se desloca.

     Fig 1

E, em cada imagem, um espaço em recuo abre a cena total: vinte e quatro modos de apresentar as luzes de um dia na vida de Juan Reos, esse artista que se aproxima da pintura metafísica mas, na verdade, é um colecionador de impressões vividas. Na presente mostra, Crônicas daquele dia, Juan nos oferece um encontro com reminiscências do ver os lugares vividos e perdidos, em atmosferas transcendentes, cheias de vazios, cavidades e coisas de onde sair e entrar.

Pedaços de territórios suspensos.

Fig 2
Fig 3
Fig 4
Fig 5
Fig 6

Os olhares voltam-se à procura de recolher a aura do amanhecer até o anoitecer (Fig 2 a Fig 5), o início, o princípio que se dobra sobre sobre si mesmo, o acontecimento fugidio, incontrolável e circular do tempo diário. Por sobre essas superfícies iluminadas, um dia passa e “códigos sem significados” (Fig 2), nas palavras do artista, desenham-se à busca de algum acidente soberano. Dançam por sobre a abóboda celeste fiapos de nuvens (Fig 3) que se desprenderam do fundo à procura de um entre-mundo (Fig 4), deixado ali pelas lembranças da paisagem vivida. Ficção, simulacros, fragilidade, história e memória sustentam a imagem por dentro (Fig 5) e nos fazem tatear ao redor das inquietações de Juan.

Na presente mostra, Crônicas daquele dia, em cartaz a partir de 18 de novembro, na Casagaleria, Juan transforma suas interrogações em pinturas orquestrando essas heranças próprias e referências fundamentais da arte e da história da arte. Juan ilumina sua poética de arqueologias escavadas no próprio ser e as reveste com seus resíduos. Um vídeo completa as referências. De aberturas fantásticas, pequenos cenários anunciam o dia e sua passagem, situando a temática da exposição em alguns limites da representação.

Juan Reos nasceu em Buenos Aires, Argentina, em 1983. A pintura é a linguagem onde guarda todos os indícios e restos dos diálogos estéticos feitos em lugares onde esteve. Em 2014, participou da Residência Artística da Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo e em 2019, fez a Residência Artística De Liceiras, no Porto, em Portugal. Seu questionamento como pintor está ao lado dos rumos da arte contemporânea, ao lado da performance, instalações fotográficas, vídeos e a própria arte na web. Desdobramentos dessa pesquisa plástico-visual puderam ser vistos em exposições individuais e coletivas em São Paulo, Paris e Montevidéu. Em 2018, conquistou o primeiro prêmio no concurso Itaú de Artes Visuais, Argentina. Atualmente, é professor na Cátedra Bissolino da Universidad Nacional de las Artes – UNA, Argentina, a mesma em que se tornou Bacharel em Artes Visuais.

Todos os aspectos da exposição Crônicas daquele dia situam uma linguagem significativa para a arte atual, cujas malhas deixam passar o olhar de Juan Reos que vê nas sombras da sua cultura as tessituras de um mundo que não pode ser desfeito.

Carmen S. G. Aranha[1]


[1] Professora Associada Sênior do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP) e do Programa de Pós Graduação Interunidades em Estética e História da Arte da Universidade de São Paulo (PGEHA USP). Autora do livro Exercícios do Olhar. Conhecimento e Visualidade (UNESP, FUNARTE, 2008).