Exposição Pertencimento

Sobre a exposição

Otavio inicia uma investigação dos processos e dos fenômenos materiais para criar estruturas em suas composições, ressaltando a preocupação de não operar sobre a superfície dos papeis. Ele utiliza as tramas que surgem no papel poroso – de ambos os lados – e as texturas da madeira. A sensação de pertencimento, de algo que não foi imposto ao suporte, só se cumpria pela sua capacidade de acentuar a presença do meio que as abrigava, o papel. O esforço para dar às linhas uma desenvoltura mínima, a busca de limites, tem como contrapartida a descoberta de uma inserção que ativa os campos com uma força inesperada.

Segundo Baudelaire, “a percepção pertence desde início à lembrança”. Nesse sentido, a nova produção do artista visual Otávio Zani busca em suas memórias e lembranças traços de uma permanência nesse mundo. Existe uma memória permanente que mantém a identidade das coisas.

Nos trabalhos anteriores que estão presentes na exposição, Otavio analisa a linguagem por outros caminhos: inicia uma certa subversão dos procedimentos e percebe que o peso gráfico é um fator compositivo que o interessa, além de uma certa imperfeição da impressão que dá possibilidade para que a imprevisibilidade comece a pairar sobre os planos gráficos. São várias técnicas executadas com fluidez. Ao passar de uma técnica para a outra e sem que uma se sobrepuje à outra, Otavio tece uma rede na qual o fazer vai situando as manchas da memória.

Nessa nova produção, propõe-se que as possibilidades das direções das linhas sejam horizontais e verticais. Os traços são mais marcantes, assim como a palheta reduzida, evidenciando a opacidade de um solo, as espessuras camadas pictóricas, a terra. As intervenções cromáticas, em tons marrons, de terra queimada. As cores básicas do interior de São Paulo onde sua família morou. A paisagem do interior do Estado de São Paulo surge aí como uma âncora na história, uma relação emotiva com o passado.[1]

São percursos do esquecimento essencial que, uma vez intensificados por uma luz, um odor, um gesto, projetam-se em visualidades nos materiais e procedimentos da impressão gráfica.[2]

Loly Demercian


[1] Peixoto, Nelson Brissac. Paisagens Urbanas. Ed.marca d’agua. Senac.São Paulo, 1996.

[2] Aranha, Carmen. Livre-Docente em Teoria e Crítica de Arte pela Escola de Comunicação e Artes da USP – ECA USP (2001). Professora Doutora (MS-3) (1993-2000) e Professora Associada (MS-5) do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC USP (2000-2016). Professora Associada Senior a partir de dezembro de 2016 – MAC USP.