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Exposição “Existir, girar, resistir”

Marietta Toledo

Sobre a exposição

Marietta Toledo voltou de uma residência artística em Epecuén, na Argentina, trazendo em sua bagagem memórias de um lugar devastado pelas águas salinizadas. Epecuén foi o maior polo de turismo termal da província de Buenos Aires e um dos mais importantes daquele País. Suas águas mineralizadas – com uma concentração de sal até dez vezes mais alta do que os mares em geral – eram comparadas às do Mar Morto e, por isso, atraíam muitas pessoas em busca de tratamento ou apenas para flutuar na salinidade daquela massa líquida. Fotos da época mostram enormes piscinas públicas, castelos suntuosos e milhares de pessoas com expressão feliz, incapazes de imaginar o que aconteceria. Em 10 de novembro de 1985, o lago transbordou por razões naturais – excesso de chuvas –, mas sobretudo por irregularidades numa obra pública, já então amplamente denunciadas: durante a década de 70.

Segundo a revista Piauí (“Cidade Submersa, edição 103, abril 2015), Epecuén nasceu como estância turística no início do século XX. Era o reduto de uma classe alta que, em busca de saúde, podia realizar longas travessias em coches. Num tempo em que a penicilina ainda não havia sido descoberta, os visitantes creditavam à alta salinidade do lago o milagre da longevidade. Em poucas décadas o povoado viveu uma explosão comercial. Em 1940, já oferecia 5 mil leitos, edifícios construídos ao gosto da Belle Époque, um hotel com escadarias de mármore e uma insólita construção medievalista –  o famoso Castelo da Princesa – incrustada em plena planície bonaerense e habitada por uma francesa de linhagem real.

Nessa atmosfera, Marietta transitou em cenários, repletos de histórias. Viu garrafas, mosaicos, pedaços de rodas, cacos de louça, tocos de árvores, gaivotas , flamingos , tubulações corroídas e um cenário de cidade vazia de vida.

As fotografias traduzem seu olhar imparcial das representações do espaço/tempo de Epecuén. Elas refletem, na verdade, discursos que tendem dar novas visibilidades na feitura dos trabalhos, marcados por tecidos luxuosos, com flores, brilhos e rendas, tal como na Belle Époque.

Reconstruindo um pensamento do tempo perdido nas águas salgadas de Epecuén, as tensões visuais ficam na estrutura de pensamento,  uma visibilidade iminente, e podem alojar-se no ser sem nenhum discurso .

E nessa inquietação  do pensamento, Marietta fez um recorte nas imagens  como uma troca com o mundo visível,  dando-lhes dezenas de possibilidades de construção em suas sensações, isto é, “cifras desenhadas num imaginário “.[1]

Essas cifras desenhadas, têm a forma do círculo, que poderia significar também como volta, giro, rodeio, circuito, orbita, rotação, âmbito, alcance, área, extensão, limite. O mundo é representado pelo círculo, por essa volta das coisas que emergem da terra. “As civilizações e épocas, por mais afastadas que estejam umas das outras, tornam-se, num certo sentido, contemporâneos de todas as imagens inventadas por um mortal, pois cada uma delas escapa, misteriosamente, do seu espaço/tempo”.[2] 

Loly Demercian


[1] Revista ARA n. 8. Volume 8.Imagens e projeções : Carmen S. G. Aranha

[2] Debray,Régis: Vida e morte da imagem: uma historia do olhar no Ocidente. Vozes. Petropolis, 1994

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