Fragmento sem frase: Luiz 83

 

Quadrados, triângulos e círculos, amarelo, azul, vermelho e uma única letra. Formas, cores e padrões gráficos elementares associados a um vocabulário que surgido nas ruas é refinado pela experiência que nas ruas também foi adquirida. Nascendo e vivendo em São Paulo, Luiz 83 prospecta na paisagem urbana sugestões de fragmentos de arquiteturas e um glossário gráfico pessoal. Toda essa operação será elaborada num conjunto de estruturas plásticas que resultam em síntese seca e inventiva que toma partido das soluções construtivistas também presentes na sua escultura. Essa síntese contempla o fragmento e o enunciado deixando aos olhos, e a sensibilidade de quem a observa, a tarefa de completá-las.
No percurso dessa construção do espaço pictórico as formas constituídas são
realçadas por cores que quando aplicadas ao suporte não suprimem o branco próprio á tela, mas, pelo contrario, incorpora e beneficia-se dele para intensificar o signo, iluminar e “acender” as cores, criando nessa superfície uma espécie de fosforescência de acento pop confirmando, num certo sentido, a conexão do artista com o universo da “street art”.
Assim para além das interessantes soluções formais que essa seleção de obras apresenta estão as origens dessas criações, isto é, as ruas que são ainda hoje laboratório e suporte para o exercício criativo do artista, talvez por isso as composições mantenham frescas na superfície da tela ou n o metal recortado o calor do seu lugar de origem sem, no entanto, desprezar o caminho, também pouco ortodoxo, que tornou possível ao artista tomar contato com outras experiências que acabaram por acrescentar uma maior densidade poética ao trabalho de Luiz 83. De fato fica a interessante sugestão que um projeto construtivo em arte no Brasil pode abarcar territórios outros que não aqueles demarcados e consagrados pela academia como únicos e canônicos, sem por isso negá-los.

Claudinei Roberto da Silva
Setembro, 2018