PAISAGENS VELADAS

               A artista Visual , Eliane Gallo apresenta exposição individual na CasaGaleria e oficina de arte Loly Demercian, em São Paulo – SP. Situada no coração da Vila Madalena, Rua Fradique Coutinho, 1216, A exposição Paisagens Veladas. Abertura no dia 11 de novembro às 17 horas

             Em sua produção, Eliane Gallo investiga um tema relevante à história da arte: a paisagem. Consagrado pelos pintores holandeses no século XVI, o gênero passou por inúmeras transformações e é a partir desse contexto de renovação da paisagem que a artista concebe suas pinturas e escultura, segundo Georg Simmel ressalta como advento da noção de paisagem associa-se à emergencia de um certo olhar, de uma percepção diferenciada em relação a sua totalidade , a atmosfera de uma paisagem diz respeito à apreensão de algo que não está completamente isolado daquele que a percebe , e nem completamente no interior deste, como se fosse mera projeção de uma experiência interna, de uma história pessoal.

               Merleau-Ponty observa: que é preciso que nos habituemos a pensar que todo visível é moldado no sensível, todo ser tátil está voltado de alguma maneira à visibilidade, havendo assim imbricação e cruzamento, não apenas entre o que é tocado e quem toca, mas também entre o tangível e o visível que está incrustado.

Figura 1- Paisagens veladas
Autor: Eliane Gallo, 2017
Técnica: Encáustica

Intitulada “Paisagens Veladas”, a mostra, que inaugura no dia 11 de novembro, reúne obras produzidas entre 2016 e 2017. Nos trabalhos (Fig. 1 a 4), é possível identificar elementos figurativos que são sobrepostos por várias camadas de cera de abelha, numa espécie de “veladura”, como define a artista: “a pintura encáustica é uma técnica milenar que reúne cera de abelha, pigmentos e fogo possibilitando vários desdobramentos de sentidos. Nas minhas obras, há várias paisagens dentro de uma só. São paisagens encobertas que são reveladas pouco a pouco desafiando o olhar do observador.

Figura 2- Paisagens veladas 2
Autor: Eliane Gallo, 2017
Técnica: Encáustica

Figura 3- Paisagens veladas 3
Autor: Eliane Gallo, 2017
Técnica: Encáustica

O termo “velado” significa aquilo que está coberto com véu ou o que pode ser encoberto por algo; tapado ou escondido. A produção da artista exige que o público tenha um olhar ativo para descobrir sob as manchas de cera as fotografias autorais quase abstratas. A ideia, diz a artista, foi compor uma “paisagem externa”, ou seja, construir espacialmente com elementos pictóricos e coisas[2] da natureza. Para a sua observação os observadores devem se colocar de frente e a uma certa distância.

A particularidade do processo de criação da artista foi transformar as suas fotografias autorais em imagens parcialmente ou totalmente cobertas por várias camadas de encáustica para instigar o observador na descoberta das paisagens veladas. Esse universo particular e abstrato foi criado no intuito de prender os olhares por mais tempo defronte a essas paisagens construídas/desconstruídas. A ação proposital da artista revela a sua intenção de nos remeter a lembranças de um mundo repleto de memórias de “coisas” que se modificam o tempo todo ao nosso redor. Trazer à memória uma conexão com o mundo natural, pois vivemos numa sociedade que caminha para a perda do vínculo com a natureza. A imersão tecnológica tem nos retirado do convívio das pessoas e do meio ambiente. As obras não pretendem replicar ou estabelecer esses vínculos com as paisagens, mas torná-las visíveis trazendo à tona apenas algumas partes de suas formas reveladas na tentativa de se ver mais longe do óbvio.

Figura 4- Paisagens veladas 4
Autor: Eliane Gallo, 2017
Técnica: Encáustica

Nas esculturas revelam-se pedaços de madeira que foram descartados e tiveram uma nova leitura com o uso da encaústica e aço. A motivação da artista para essas peças foi estabelecer a relação essencial entre materiais e as forças da natureza. Trazendo ao olhar as possibilidades das transformações do material e dar forma às coisas do mundo.

[1] Artista nascida em 1971, Eliane Gallo é formada em Arquitetura pela PUC – Campinas e tem Doutorado em Artes Visuais (UNICAMP). Já obteve premiações e participou de várias exposições coletivas e individuais. Trabalha e vive em Amparo -SP.

[2] O termo adotado coisa “ é um acontecer, ou melhor, um lugar onde vários aconteceres se entrelaçam”, baseado no conceito definido por Tim Ingold (2012, p. 29).

REFERÊNCIAS

INGOLD, Tim. Trazendo as coisas de volta à vida: emaranhados criativos num mundo de materiais. Horiz. antropol.,  Porto Alegre ,  v. 18, n. 37, p. 25-44,  June  2012 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832012000100002&lng=en&nrm=iso>. access on  16  Oct.  2017.  http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832012000100002.

Ponty, Merleau. O visivel e o invisivel. São Paulo:Perpectiva,1984.p131