MASAO UKON: ENCANTAMENTO DE UMA VIDA
MASAO UKON nasceu em maio de 1931, no Japão. Sua mãe (artista plástica), desde pequeno, estimulou no jovem o gosto pelas artes, levando-o com habitualidade a museus.
Sua paixão, no entanto, foi despertada para outra modalidade de manifestação artística: o Jazz. Ele então aprendeu a tocar o pistom e criou, ainda na adolescência, seu próprio grupo de jazz.
Após a Segunda Guerra Mundial, como muitos imigrantes que chegaram ao Brasil, a família Ukon desembarcou em Porto de Santos no navio Santos Maru , 1955.
Masao, em pouco tempo, apesar da dificuldade da língua, se ambientou. Ele tinha uma voz universal, que era o seu instrumento musical: o pistom, o que lhe permitiu participar do filme “Heaven Knows, Mr. Allison”, dirigido por John Huston, no ano de 1957.
Apenas na década de 60, é que realmente o jovem Masao assumiu em definitivo sua inexorável tendência para as artes visuais, cedendo, para tanto, aos fortes influxos recebidos de sua mãe, Ikuko Ukon, amiga de Tomie Ohtake, Manabu Mabe e Wakabayashi. Ele sentiu, então, a necessidade de registrar, por meio de desenhos, seus amigos do jazz.
Para que isso fosse possível, precisava de uma técnica de registros rápidos, dos fugidios instantes vivenciados. Optou, com muita criatividade, pela técnica dos caricaturistas e chargistas, muito em voga e ascensão àquela época. Só eram necessários, portanto, um bloco de papel, uma caneta e pastel seco, nada mais.
Masao tocou num clube de Jazz e na Casa Universitária, situada na rua Artur Prado, ambas no romântico Centro Velho de São Paulo.
Na inseparável companhia do seu bloco de desenhos, ele sempre estava pronto para registrar momentos inusitados e inenarráveis de lugares, pessoas e amigos.
Foi em um desses shows na Casa Universitária, que ele conheceu sua outra paixão – Maria Antonia (sua futura esposa) – e integrou em seus registros mais dois componentes: sua mulher e seu filho (que nascera desse amor incondicional).
Participou das bandas Bourbon Street e São Paulo Dixieland Band, esta última formada por ex-alunos da Universidade Mackenzie; tocou na Opus2004, Capitu e Balaco Baco.
Sua técnica de observação dos momentos é de uma maestria ímpar, incomum, pois transmite a ideia de notas musicais arrastadas – como o jazz e o blues – em cores de tons baixos, dando ênfase às linhas e contornos, firmando ainda mais sua vocação para as artes. Quem ganha com isso não é o autor e sim as pessoas que ele vê e retrata.
São momentos marcantes de toda uma trajetória de sucesso e felicidade, como um encantamento de cada partitura virada, de cada folheada da vida.
Ele nos convida a descobrir essas equações de sua existência, que se entrelaçam no tempo, com as variantes da música e do desenho.
Essa bela e romântica história está longe de chegar ao fim. É um início de tantos outros recomeços. O que não é inalterado são seus desenhos, seu lastro, sua vida vivida intensamente, os enquadramentos dos desenhos e, neles, o descortinar da passagem de outras vistas, das memórias do passado, do presente e do muito que ainda está por vir.
Loly Demercian